O dia seguinte.
Era uma quarta-feira daquelas que você acorda tão leve que nem sente o preso das responsabilidades e da própria consciência; com aquela leve dorzinha de cabeça e um gosto estranho na boca... Ou seja, que você está no mundo da lua e com um pouco de ressaca.
- Mazinha, estou atrasada e eu sei que você precisa do carro. Vamos passar no café pra comer alguma coisa e depois você me deixa?
Mazinha, sua irmã mais nova, sempre com aquela cara de “ta.faço.mais.esse.favor.pra.você.sua.chata”, parecia estar de bom humor:
- Ta bom. Também to com fome. Nada pra comer aqui em casa...
Fui dirigindo, reparando no céu azul, na borboleta preta que se segurava do retrovisor do carro, na música da Lady Gaga-Ga...
- Você ta louca, ow? Não viu o cara atravessando na faixa de pedestres não?
- Ahn? – Enquanto reparava nas coisas belas do dia pensava nas coisas que teria que fazer no escritório e no sapato que estava em promoção... – Ai meo, nem atropelei então ta tudo bem!
- Acorda! – olhou para o alto com o típico gesto de quem está sem paciência, enquanto apoiava a mão na cabeça e o cotovelo na janela do carro. – Com o que você sonhou essa noite hein? Ou melhor, você dormiu? A mãe ficou me enchendo o saco porque você não tinha chegado!
A noite anterior tinha sido super divertida! Encontrou com suas amigas em um barzinho, beberam Martini e Big Apple a noite toda enquanto riam de piadinhas infames, reparavam nos carinhas que ficavam olhando e brincavam com o garçom bonitinho. A ressaquinha tinha batido, mas nada demais!
- Garota! Você ta me ouvindo? Nossa, desisto de você. É realmente um caso perdido!
Ouvi alguma coisa zumbindo no meu ouvido. Alguém, eu acho, falando alguma coisa sem importância e que não queria ouvir. Não precisava. E encheções de saco de irmã mais nova são sempre sem importância. Chegamos. Parei o carro. Sai. Fechei a porta.
Foi tudo normal. Ela ainda zumbindo alguma coisa relacionado a “você vai tomar uma puta bronca por ter chegado em casa tarde de novo, ainda mais no meio da semana.” Não estava nem ai. Não ligaria...
Engraçado que não falaram nada. Me olharam por cima do óculos, balançaram a cabeça negativamente e perguntaram se tinha dormido bem.
- Dormi sim. Igual uma pedra! Me da um café, um misto e um suco de laranja? Vou sentar ali...
Continuava pensando em tudo. Principalmente que por volta de quatro horas da tarde não estaria se agüentando em pé e ainda tinha outro aniversário de noite... Ainda precisava comprar o presente e passar no posto pra comprar a bebida (mais bebida? Nuuus)
Hora de ir embora.
- Uai. Cadê a chave do carro? – Me perguntei incrédula e voltando um pouco para a realidade.
- Sei lá! Tu que tava dirigindo e fechou o carro, cabeçuda! – Definitivamente com menos paciência que antes e com direito a um tapinha na minha cabeça.
- Puts, acho que deixei no carro. – Já tinha feito isso uma vez, mas de novo?
- Não acredito, Camila. – Fez aquela cara de bunda típica e saiu andando.
- Não fala nada pro pai e pra mãe! Vamu! – E se tivessem roubado o carro? Ai meu Deus! Foi um verdadeiro choque de realidade.
Foram andando rápido para o carro.
- Sua anta! Você não só deixou a chave dentro do carro, como também deixou o carro ligado! – Seu ar mudou. Não era mais de “sem paciência” ou indignação. Tinha ficado preocupada. – Você ta bem? – Disse, enquanto me sacudia pelos braços.
- Nossa. Como eu fiz isso? – Havia acordado do meu mundo. – Vixi, quase acabou a gasolina! Vamos no posto colocar alguma coisa! Não fala nada pra eles viu?
- Caramba, Camila. Você me assusta...
- Ah, não enche!