Dia desses lembrei de quando tu apareceste por aqui, com teu jeans surrado, camiseta amassada, chinelo de dedo e aquele cheiro teu, gostoso, fugindo do corpo. Já passava das 23 horas quando o interfone tocou e ouvi aquele “Desce” sem cerimônias.
Era tarde, até pra nossas conversas madrugadoras, e a hora adiantada, junto com teu tom de voz sério e acolhedor me angustiou. Eu desci, mas não sem antes trocar de roupa. Vesti um casaco verde surrado por cima do pijama, coloquei uma calça jeans, calcei minhas pantufas e, sem ao menos pentear os cabelos, fui ao teu encontro ansiosa pelas horas de histórias encantadoras que tu me cotava.
Desci os três lances de escada que nos separavam a passos rápidos. Assim que cheguei no térreo te vi através da porta de vidro, teu cabelo castanho escuro, quase preto, continuava rebelde, da maneira que eu gostava. Tu estavas a contemplar as estrelas com as mãos no bolso, corpo levemente inclinado para frente e os olhos fixos em algum ponto além Terra. Teu braço esquerdo me envolveu, mas seus olhos ainda se mantiveram por alguns momentos apreciando a imensidão do universo. O ar daquela noite parecia inofensivo, mas por meio dele eu inalava despedida, sem perceber.
Tu viraste de frente pra mim, seguraste minhas mãos e me olhaste intensamente. Sem rito algum, expulsou teus pensamentos:
- Estou indo embora.
A frase me apunhalou no centímetro mais vulnerável, a dor foi lancinante e com ela vieram as lágrimas. Tu não me impediste minha choradeira descomunal, nem enxugaste minhas lágrimas. Como sempre, tu me deixava ser, me permitia caminhar no meu passo, lento demais para certas coisas, desajeito para outras. Quando eu começava a me acostumar com a idéia de tua ausência tuas mãos alcançaram o fecho do teu colar, o qual tu retiraste e colocaste na palma da minha mão. Dali em diante aquele pedacinho de ti virou minha mais preciosa relíquia. Tu me abraçaste e dançamos, atordoados, a canção murmurada por ti: “ ‘cause I am living on a jet plane, don’t know when I will be back again, oh baby I hate to go… ”
Ingenuamente balbuciei:
- Nan, nunca se despeça de mim – disse entre soluções e sem olhar teus olhos, pois isso seria um encontro com a realidade, quando eu só queria fantasia. – Não quero nunca que te despeças.
- Minduim - disse ele, me chamando pelo apelido carinhoso – Despedidas são doídas. Eu não gosto delas.
- Dores desnecessários – disse eu.
- Mas são boas – Nesse momento meus olhos de menina encararam assustados aquele menino homem que me encarava com o bom senso dos sábios – Despedir do jeito certo é necessário flor, porque uma despedida de verdade diz: eu te amo, e por isso te deixo partir, para que possas voltar por amor e encontrar meu amor ao voltar.
Anônimo mas com copyright. hehe
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PS: Meu nome não é Camila. Eu resolvi invadir o blog dela e postar. Quase não tive pressão nenhuma pra isso, né Kaa?